Descoberta única revela carapaça de lama em múmia com mais de 3.000 anos

Divulgado em: 03/02/2021.

Um sarcófago contendo uma múmia de 3.400 anos foi adquirido pelo político inglês-australiano Charles Nicholson em 1856-1857, em uma viagem que ele fez ao Egito. Não há registro de como Nicholson conseguiu o sarcófago com a múmia, principalmente porque durante o século XIX e início do século XX, era comum colecionadores europeus e americanos adquirirem artefatos egípcios, através de compra, doação, presente, ou até mesmo de forma ilegal.

Tanto o sarcófago quanto a múmia vem sendo estudados por anos e cada novo estudo revela algo sobre eles.

No início o que se sabia sobre a múmia é que ela tem uma placa com a identificação NMR.27.3, origina-se de Tebas Ocidental e que ela foi doada juntamente com o seu sarcófago para o Chau Chak Wing Museum da Universidade de Sydney, por Nicholson em 1860. Acredita-se que a múmia tenha sido comprada em Luxor.

#EgitoAntigoeSeusMisterios
Sarcófago da múmia do Museu Chau Chak Wing, Universidade de Sydney. Fotógrafo desconhecido, Plos One.
Múmia de uma provável mulher à esquerda e seu sarcófago à direita, do Museu Chau Chak Wing, Universidade de Sydney. Fotógrafo desconhecido, Plos One.

Estudos feitos anteriormente, revelaram que o sarcófago era do final da 21ª dinastia (1010–945 a.C.) e que pertencia a uma mulher chamada Meruah ou Meru (t) ah. Mesmo com o resultado de DNA que tinha sido feito e que revelou que tratava-se de um homem, a múmia foi considerada como sendo a mulher identificada no sarcófago.

Com as novas pesquisas foi possível contestar os estudos anteriores e fazer uma grande descoberta, que revelou um tipo de mumificação única, feita com uma carapaça de lama (que pode ter sido decorada) ao redor do corpo da múmia e com a parte do rosto pintada de vermelho. Fora isso, foi possível confirmar que a múmia é "provavelmente uma mulher", mas não é a mulher identificada no sarcófago, pois baseado na iconografia da decoração do sarcófago, ele data de 1000 a.C. E há evidências de que a múmia pertence a uma época anterior ao do sarcófago.

De acordo com informações divulgadas no site da revista Plos One, há uma explicação para isso: "Os negociantes locais provavelmente colocaram um corpo mumificado não relacionado no sarcófago para vender um "conjunto" mais completo, uma prática bem conhecida no comércio local de antiguidades". (PLOS ONE,2021).

A importância dessa descoberta foi comentada pela revista Plos One: "Embora conchas resinosas sejam registradas em restos mumificados reais do final do Novo Império, as cápsulas feitas de lama ainda não foram documentadas e datadas cientificamente. Assim, o indivíduo mumificado em estudo pode representar uma janela única para o fenômeno da emulação da elite nos costumes funerários de egípcios não-reais". (PLOS ONE,2021).

Com relação a carapaça de lama, a revista Plos One explicou: "Quando comparada com crenças estabelecidas após a morte e desenvolvimentos em técnicas de mumificação de elite, a carapaça pode ser entendida como um artefato funerário prático e simbólico.

"Conchas" endurecidas dentro dos envoltórios de linho de pessoas mumificadas do antigo Egito são conhecidas do estudo da mumificação de elite do final do Novo Império até a 21ª dinastia (1294–945 a.C.). No primeiro exame sistemático dos corpos mumificados de indivíduos reais alojados no Museu Egípcio, Cairo, camadas de "linho fino e pasta resinosa" foram relatadas. No entanto, apesar da abundância de estudos científicos realizados em outros órgãos, tais características raramente são discutidas na literatura". (PLOS ONE,2021).

Detalhe da carapaça de lama feita na múmia. Fotógrafo desconhecido, Aventuras na História.

O motivo pelo qual as pesquisas anteriores não conseguiram fazer essa grande descoberta, se deve ao fato de que antes não havia um recurso tecnológico como o que temos atualmente. Dessa forma, os resultados obtidos não foram precisos.

A revista Plos One fala um pouco sobre isso: "A casca foi descoberta em 1999 durante um projeto de varredura de tomografia computadorizada (TC) liderado pela arqueóloga Karin Sowada. Em 21 de dezembro de 1999, o professor Allan Spigelman da Faculdade de Medicina da Universidade de New South Wales, Sydney, extraiu quatro pedaços da concha em condições estéreis por meio de uma pequena incisão feita no invólucro do aspecto ínfero-lateral esquerdo da face. Na estação de trabalho de Tomografia Computadorizada, esses fragmentos eram originalmente considerados ossos, aparecendo como peças soltas ao redor da cabeça". (PLOS ONE,2021).

Através da tomografia computadorizada, raioX e outras técnicas utilizadas nos novos estudos, foi possível saber que a múmia é de uma "provável mulher" do período do Novo Império (1207 a.C.) que tinha entre 26 e 35 anos de idade quando morreu. E que ela foi submetida a tratamentos post-mortem várias vezes, em períodos diferentes, por ter sido danificada. Fora isso, os pesquisadores identificaram que o sarcofágo pertence a outra mulher que morreu depois da múmia que está sendo estudada. Esse sarcófago é 200 anos mais novo do que a múmia.

É importante ressaltar que para os antigos egípcios era muito importante preservar o corpo do morto, para que ele pudesse continuar vivendo após sua morte. Isso explica a necessidade do tratamento post-mortem.

O tratamento post-mortem segundo os pesquisadores, não é uma exclusividade dessa "múmia de lama". Eles disseram que isso já ocorreu com alguns faraós, como por exemplo os faraós Seti I e Amenhotep III, que foram embrulhados mais de uma vez.

Imagem da tomografia computadorizada em 3D. Foto de Chau Chak Wing Museum e Macquarie Medical Imaging, Plos One.

Imagens da tomografia computadorizada mostrando a carapaça (linha branca e fina sob o invólucro identificada pela seta). Foto de Chau Chak Wing Museum e Macquarie Medical Imaging, Plos One.

A revista Plos One detalhou o processo que foi feito com a múmia: "O indivíduo morreu, foi mumificado e embrulhado em tecidos no final do Novo Império. O corpo foi submetido a subsequentes danos post mortem em circunstâncias desconhecidas. Em uma aparente tentativa de reparar e reunificar o corpo danificado na antiguidade, o indivíduo foi então submetido a algumas embalagens, acolchoamento e acolchoamento com tecidos e aplicação da carapaça de lama. Desarticulações, danos e reparos, como os feitos no joelho esquerdo e parte inferior da perna, são determinados como anteriores à carapaça porque são profundos na concha. Uma exceção aqui pode ser a desarticulação observada para os pés; embora existam áreas de descontinuidade na carapaça anterior e distal, o envoltório têxtil é contínuo. Portanto, parece que a desarticulação do pedal aconteceu depois que o tecido mole circundante secou e se desintegrou. Ao redor da área da cabeça, pelo menos, a superfície da lama foi então pintada com uma camada base de pigmento branco, possivelmente à base de calcário. A superfície sobre a face foi então revestida com pigmento mineral castanho-avermelhado, conforme indicado pelas amostras de carapaça de lama. Posteriormente, o corpo foi danificado novamente em circunstâncias desconhecidas no lado direito e nas regiões do pescoço, cranial e facial. Esta fase da intervenção é considerada a mais recente, visto que o dano atinge todas as camadas subjacentes, incluindo a carapaça. Pinos de metal modernos foram inseridos em vários lugares para estabilizar os danos mais recentes. Começando ao redor da região dos trocânteres maiores, os pinos são distribuídos bilateralmente em direção aos ombros com um foco maior no lado esquerdo. Eles então se estendem principalmente nas faces laterais do corpo e se movem superiormente para o lado esquerdo da cabeça". (PLOS ONE,2021).

Fragmentos da carapaça onde a identificação "A" mostra o pigmento vermelho e a "B" mostra uma base de lama. Fotógrafa K. Sowada, Plos One.

A arqueóloga Karin Sowada também comentou sobre a reparação da múmia: "Quem reparou a múmia fez um complicado sanduíche de terra, colocando uma massa de lama, areia e palha entre camadas de envoltórios de linho. A parte inferior da mistura de lama tinha uma camada base de um pigmento à base de calcita branca, enquanto a parte superior era revestida com ocre, um pigmento mineral vermelho. A lama foi aparentemente aplicada em lençóis enquanto ainda estava úmida e flexível. O corpo foi envolto em faixas de linho, a carapaça aplicada e, em seguida, outras faixas colocadas sobre ele". (LIVE SCIENCE,2021).

Fragmento da carapaça onde "A" é a base de lama revestida com camada de base de pigmento branco e pigmento vermelho e "B" é o verso com fragmento de palha. Fotógrafo desconhecido, Plos One.

Essa carapaça de lama na múmia além de ter servido para restaurar o corpo que tinha sido danificado, revelou uma forma antiga de restauração. Fora isso, todo esse trabalho teve um custo que com certeza pessoas simples não teriam como pagar. O processo de mumificação sem reparos posteriores já não era acessível à todos. Isso nos mostra que quem cuidou desse corpo tinha boas condições financeiras.

A revista Plos One falou um pouco sobre isso: "Embora a posição social do indivíduo não possa ser determinada, os que cuidavam dessa pessoa na morte tinham meios suficientes para pagar por embalsamamentos complexos, incluindo evisceração, embalagem interna e envoltórios de linho. Eles, ou outras pessoas associadas ao falecido, preocuparam-se o suficiente com o bem-estar póstumo deste para, mais tarde, investir em uma carapaça engessada e pintada com lama depois que o corpo foi desmembrado e desmembrado". (PLOS ONE,2021).

De acordo com estudos feitos por diversos arqueólogos e egiptólogos ao longo dos anos, foi possível saber que o processo de mumificação feito pelos antigos egípcios sofreram mudanças ao longo de sua história. Essa nova descoberta revelou mais um processo de mumificação, que com certeza será estudado mais a fundo e quem sabe, isso venha ajudar a desvendar mais um pedaço da história.

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Referência: Multidisciplinary discovery of ancient restoration using a rare mud carapace on a mummified individual from late New Kingdom Egypt. Plos One,2021. Disponível em: https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0245247. Acesso em 07 de Fevereiro de 2021.

Referência: GEGGEL,Laura. Never-before-seen 'mud mummy' from Egypt discovered in wrong coffin. Live Science,2021. Disponível em: https://www.livescience.com/ancient-egyptian-mud-mummy.html. Acesso em 07 de Fevereiro de 2021.

Referência: COELHO,Penélope. CURIOSA MÚMIA DE 3 MIL ANOS É ALVO DE ANÁLISES POR CIENTISTAS. Aventuras na História,2021. Disponível em: https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/historia-hoje/curiosa-mumia-de-3-mil-anos-e-alvo-de-analises-por-cientistas.phtml. Acesso em 07 de Fevereiro de 2021.

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