Equipe polonesa descobre o mais antigo cemitério de animais no Egito

Divulgado em: 25/01/2021.

Uma equipe de pesquisadores poloneses liderados pela Zoo arqueóloga Marta Osypińska (Academia Polonesa de Ciências em Varsóvia) e com a participação de Michał Skibniewski (Professor Associado do Departamento de Ciências Morfológicas da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Ciências da Vida de Varsóvia) e Piotr Osypinski (PhD e Pesquisador do Instituto de Arqueologia e Etnologia da Academia Polonesa de Ciências), fizeram uma descoberta reveladora no porto romano de Berenice, na costa do Mar Vermelho, onde encontraram um cemitério de animais de quase 2.000 anos. Com essa descoberta, esse cemitério passa a ser o mais antigo do mundo que se tem registro.

O estudo dessa descoberta foi revelada no dia 25 de janeiro de 2021 na revista World Archaeology.

#EgitoAntigoeSeusMisterios
Pesquisadores escavando o cemitério de animais. Fotógrafa Marta Osypińska, Live Science.

Mapa mostrando a área do cemitério de animais no destaque em vermelho. Fotógrafa Marta Osypińska, Live Science.

No antigo Egito era comum o enterro de animais considerados sagrados porque eles eram a representação de deuses para essa população. Esse é o caso, por exemplo, do gato que era a representação da deusa Bastet.

Houve época em que animais serviram de sacrifício aos deuses. E baseado nisso a equipe que fez essa descoberta chegou a pensar nesse hipótese, antes de fazer seus estudos no local.

Os pesquisadores envolvidos fizeram essa descoberta por acaso. Eles vinham escavando os arredores de Berenice há alguns anos porque nesse local há um antigo lixão fora dos muros da cidade, da antiga civilização egípcia. Foi em 2011 que a equipe encontrou os primeiros indícios de restos de pequenos animais e a partir desse momento eles passaram a contar com a ajuda de uma especialista em zoo arqueologia, a pesquisadora líder do estudo Marta Osypińska.

Esse local do cemitério foi utilizado entre os séculos I e II d.C., pelos romanos, para o transporte e comércio de marfim, tecidos e outros produtos de luxo da Índia, Arábia e Europa.

Ao todo foram encontrados esqueletos de 585 animais que não foram mumificados, sendo 536 gatos, 32 cachorros, 15 macacos, uma raposa e um falcão. Com os estudos feitos, foi possível afirmar que esse cemitério não tinha relação com animais usados em sacrifício aos deuses, muito pelo contrário, nenhum deles mostrou sinais de que morreram nas mãos de pessoas. Alguns restos de gatos e macacos, por exemplo, tinham coleiras decoradas com conchas, vidro e pedras preciosas. Muitos animais foram enrolados em tecidos ou cobertos com pedaços de cerâmica, formando uma espécie de sarcófago.

Detalhes das covas. Fotógrafa Marta Osypińska, Live Science.

Coleiras e contas encontradas ao lado de gatos, bem como os acessórios de um enterro de macaco. Fotógrafo desconhecido, Arqueologia Egípcia.

Enfeites das coleiras dos gatos. Fotógrafa Marta Osypińska, Live Science.

Restos mortais de um gato com uma coleira de bronze. Fotógrafa Marta Osypińska, Live Science.

Todos os animais receberam um tratamento cuidadoso. A Marta Osypińska, chegou a comentar sobre um dos cachorros encontrados: “Um cachorro grande foi enrolado em uma esteira de folhas de palmeira e alguém colocou cuidadosamente duas metades de um grande recipiente (ânfora) em seu corpo, assim como um sarcófago”. (LIVE SCIENCE, 2021).

Cachorros enterrados em vasos de cerâmica. Fotógrafa Marta Osypińska, Live Science.

Marta Osypińska deu mais detalhes sobre os cuidados dados à esses animais: “Temos animais velhos, doentes e deformados que precisavam ser alimentados e cuidados por alguém. Temos animais (quase todos) que são enterrados com muito cuidado. Os animais são colocados em uma posição de dormir - às vezes enrolados em um tecido, às vezes cobertos com pedaços de cerâmica”. (LIVE SCIENCE, 2021).

Restos mortais de um cachorro manco. Fotógrafa Marta Osypińska, Live Science.

Esqueleto de um gato aleijado. Fotógrafa Marta Osypińska, Live Science.

Restos mortais de um gato enrolado em tecidos. Fotógrafa Marta Osypińska, Live Science.

Um outro caso que chamou a atenção, foi o de um macaco descrito por Marta: “Em um caso, um macaco foi enterrado com três gatinhos, uma cesta de grama, tecido, fragmentos de vasos  e duas lindas conchas do Oceano Índico empilhadas contra sua cabeça. Então, pensamos que em Berenice os animais não eram sacrifícios aos deuses, mas apenas animais de estimação”. (LIVE SCIENCE, 2021).

Restos mortais de um macaco. Fotógrafa Marta Osypińska, Live Science.

Segundo alguns estudiosos, na época da antiga civilização egípcia não havia o conceito de “animal de estimação” como entendemos hoje, mas segundo Marta, essa descoberta mostra que os humanos tem uma grande necessidade da companhia de animais. Acredita-se que no caso do gato, ele ajudava a combater os roedores e que o cachorro ajudava a proteger seu dono e a caçar.

Restos mortais de um cachorro (A), um gato (B) e um macaco (C). Fotógrafa Marta Osypińska, Live Science.

Detalhes de covas de gatos. Fotógrafa Marta Osypińska, Live Science.

Para facilitar a compreensão do convívio dos humanos com os seus animais nesse período romano, a Marta deu alguns detalhes de como era a vida dessas pessoas: “Há cerca de 2.000 anos, o porto de Berenice era o fim do mundo. Era um pedaço vazio e hostil do mundo. Comerciantes vieram aqui para trazer mercadorias exclusivas para o império. O que eles fizeram em uma jornada tão longa e difícil: cuidar de um cachorro querido, ou mandar trazer um macaco da Índia, ou criar gatos". (LIVE SCIENCE, 2021).

A pesquisa revelou também que alguns animais não tinham mais condições de se alimentar sozinhos, mas que receberam todo o cuidado de seus donos.

Alguns cachorros, por exemplo, morreram idosos e já não tinham mais todos os dentes ou tinham sofrido degeneração articular e foram alimentados por seus donos com alimentos amassados ou líquidos.

Alguns gatos tiveram ossos fraturados, que pode ter sido causado por queda ou por terem sido chutados por cavalos ou pessoas. E essas fraturas foram tratadas e saradas.

Tem animais que morreram jovens, provavelmente de doenças infecciosas.

Isso mostra que os animais receberam uma atenção especial de seus donos e que eram muito queridos por eles.

Alguns dos gatos (à esquerda) e cães (à direita) tinham cavidades abdominais cheias de ossos e escamas de peixes. Fotógrafa Marta Osypińska, Live Science.

Dentre os cachorros encontrados, um chamou bastante atenção: “Uma descoberta única foi feita: um deles, o menor de todos, foi uma cadelinha de pequeno porte do tipo maltês. O “maltês” de Berenice foi a única cachorrinha de colo descoberta até hoje no Egito. Ela possivelmente veio de outro continente”. (ARQUEOLOGIA EGÍPCIA, 2021).

Além dos animais, a equipe encontrou também um ostracon com um texto que também comprova a dedicação à esses animais. Marta falou um pouco sobre isso: “Um ostracon, uma peça de cerâmica com texto (como uma mensagem de texto antiga)  encontrada no local tinha um recado de quando alguns gatos de estimação ainda estavam vivos, dizendo ao dono para não se preocupar com os gatos, porque alguém estava cuidando deles, ela acrescentou”. (LIVE SCIENCE, 2021).

Todo o trabalho dessa equipe, de 2011 à 2020, além de revelar o cemitério de animais mais antigo do mundo, trouxe também uma outra visão sobre a vida do homem e seus animais naquela época. Hoje em dia vemos muitas pessoas amando e cuidando de seus animais de estimação, mas quem diria que há 2.000 anos atrás o homem já separava parte do seu tempo para se dedicar aos cuidados necessários aos seus bichanos.

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Referência: GEGGEL,Laura. World's oldest 'pet cemetery' discovered in ancient Egypt. Live Science,2021. Disponível em: https://www.livescience.com/oldest-pet-cemetery-ancient-egypt.html. Acesso em 11 de Março de 2021.

Referência: JAMILLE,Márcia. Quase 600 sepulturas de gatos e cães são encontradas próximas de porto egípcio no Mar Vermelho. Arqueologia Egípcia,2021. Disponível em: http://arqueologiaegipcia.com.br/2021/03/09/quase-600-sepulturas-de-gatos-e-caes-sao-encontradas-proximo-de-porto-egipcio-no-mar-vermelho. Acesso em 11 de Março de 2021.

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