A utilização da fibra vegetal no Egito antigo

Quando falamos sobre fibras e plantas no Egito antigo para o trabalho manual, é comum lembrarmos do papiro (junco de papiro), porém essa não era a única planta utilizada pelos egípcios antigos. Os principais materiais na produção artesanal vegetal eram as folhas da tamareira ou da palmeira doum, as gramíneas, o linho e os juncos.

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Tamareira retratada na tumba de Sennedjem (TT1). Fotógrafo: Katarina Hashemi. Pinterest.

O Junco e a cestaria

A utilização das fibras não fiadas das plantas pelos egípcios antigos vem desde o período neolítico, onde eles produziam abrigos, roupas, itens de uso doméstico e recipientes através do entrelaçamento das gramíneas, dos ramos de palmeira jovem e flexível, ou dos juncos. Eles também utilizavam as fibras das gramíneas selvagens, juncos e juncos de papiro. Para utilizá-los, eles cortavam o caule com uma foice e depois eram secos e partidos nos tamanhos necessários para a sua utilização na fabricação de esteiras, sandálias, cestos, cordas, barcos e lonas para as velas dos barcos e etc.

 Ilustração da tumba de Sennedjem (TT1). Palmeira doum, tamareira, entre outros cultivos. Crédito Rogers Fund, 1930. Domínio Publico. MetMuseum.

As cestas eram indispensáveis para o transporte de materiais agrícolas e industriais, para armazenar artigos domésticos, etc. Sua fabricação era provavelmente uma atividade bem generalizada, já que não exigia nenhuma preparação da fibra, nem tão pouco ferramenta especializada e era simples de tecer.

Existiam várias técnicas para a produção dos materiais, por exemplo o enrolamento era mais comumente utilizado na produção de cestos, peneiras, nas solas das sandálias enquanto que o entrelaçamento era utilizado na produção de bolsas, caixões (para a população mais pobre), esteiras e etc.

Vassoura de fibra (esquerda), sandália de junco trançada (direita) e cesta de junco (centro). Fotógrafo desconhecido. Handbook to Life in Ancient Egypt, pg 339.

Cesta de juncos enrolados. Reino Médio 2030–1640 a.C. Domínio Público. MetMuseum.

O mais comum era que a produção desse objetos utilizassem fibras não tingidas, porém há evidências de costuras decorativas e entrelaçamento entre fibras tingidas e não tingidas.

A produção de esteiras

Esse era um setor secundário muito importante no Egito antigo. As esteiras eram utilizadas desde os tempos pré-dinásticos, produzidas através da técnica de entrelaçamento. Eram feitas comumente de juncos e raramente de folhas de palmeira ou gramínea. Podia ser encontradas nas casas dos ricos e dos pobres, as vezes utilizadas para adornar as paredes ou o piso, as vezes podia ser utilizada como cortinas que enrolavam para deixar a luminosidade entrar na casa. Havia até mesmo a imitação de esteira dentro das tumbas onde era entalhado na pedra uma esteira enrolada no local que ficou conhecido como “porta falsa”.

Cena de fabricação de esteira na tumba de Khnumhotep. Captura de tela tour virtual. Mymatterport.

A fabricação de redes e cordas

No Egito antigo as redes eram feitas com um alto padrão de qualidade e para diversas utilizações. Eram produzidas com cordões de linho, utilizando uma técnica de laços de fios contínuos. Podemos ver essa técnica sendo utilizada na tumba de Khety em Beni Hasan. As redes mais grossas podiam ser utilizados na pesca ou na caça, enquanto que as mais finas eram utilizadas por carregadores ou como bolsas.

Cena de Pesca com rede na tumba de Niankh-khnum e Khnumhotep. Fotógrafo desconhecido, touregypt.

Cena de caça com rede da tumba do oficial Nakht - Necrópole Tebana TT52 - Novo Império. Fotógrafo desconhecido, Osirisnet.

Já a fabricação de cordas e cordões existe desde os tempos pré-dinásticos e utilizava o junco, as fibras de palmeira e o linho, porém a fibra da tamareira (espécie de palmeira) era a mais comumente utilizada para esse fim.

Nas tumbas de Amenemhet e Khnumhotep em Beni Hasan há cenas de como as cordas eram feitas, onde um poste era fixado no chão, enquanto os homens trançam os fios.

As cordas tinham utilizações diversas, podendo ser transformadas em cabos para jarros, cestas e ferramentas, assim como ser utilizada para carregar caixões e outros objetos pesados e até mesmo na contrição de barcos e na navegação.

Sandália feita de junco de papiro do Faraó Tutankhamon. Fotógrafo desconhecido, D&D Mundo afora.

Corda que sela a entrada de acesso da tumba do faraó Tutankhamon. Fotógrafo desconhecido, Sérgio Freire.
Barco de papiro. Fotógrafo desconhecido, Christie's.

Considerações finais

A indústria que produzia objetos com as fibras vegetais era de suma importância para a civilização egípcia antiga, sendo uma atividade de suporte para a construção de todas as demais maravilhas que vemos e lembramos quando falamos do Egito antigo, pois todas as construções desde os templos e pirâmides às estátuas e objetos dos ritos funerários seriam mais difíceis de serem produzidos se não houvesse esse setor, que fornecia desde os cestos para armazenamento dos materiais passando pela produção das cordas para a fabricação das redes de pesca e caça até a fabricação dos barcos e a sua utilização na navegação.

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Referência: DAVID, Rosalie. Handbook to Life in Ancient Egypt, Revised Edition 2003. New York, 2003.


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